Uma das maiores empresas de auditoria, considerada uma das “Big Four”, publica regularmente um relatório sobre as fraudes nas empresas brasileiras. Em 2009, 52% das 1.000 organizações pesquisadas (públicas e privadas) foram do ramo industrial, mas vários setores estiveram representados como Químico, Farmacêutico, Petróleo, Lojas de Varejo, Automotivo, Infra Estrutura, Construção, Agronegócios, Bancos, Seguradoras, Informática, Transporte e Logística. Enfim, um vasto leque com faturamento que de 100 milhões a mais de 5 bilhões anuais.

A pesquisa foi feita com presidentes, diretores administrativos, financeiros, controllers, gerentes de auditoria interna e até de recursos humanos. Metade deles acha que a tendência de fraude é crescente, contra somente 24% que acha decrescente, 60% acha que os controles internos e as análises de risco efetuadas internamente não são eficientes para evitar essas fraudes que são originadas 61% de funcionários, 14% de prestadores de serviços, 13% de fornecedores e apenas 8% de clientes. 

Estão na presidência ou diretoria 4% dos fraudadores, 22% na gerência, 21% nos cargos de chefia e 53% no staff, 68% são do sexo masculino, 65% com idade entre 26 e 40 anos, 67% ganham de R$ 1.000,00 a R$ 4.500,00 reais de salário e 61% possuem entre 2 e 10 anos de casa. 

A insuficiência dos controles internos é responsável por 64% das causas de fraudes. Das empresas pesquisadas 68% sofreram fraudes, sendo estas 29% por falsificação de cheques e documentos, 25% por roubo de ativos, 14% por notas fiscais frias, 12% nas contas de viagem, hospedagem e refeições, 12% em propinas e pagamentos não apropriados. Os valores envolvidos abaixo de 1 milhão de reais representaram 77%, mas 14% estiveram na faixa entre 1 e 4 milhões e o restante acima de 5 milhões. Destes montantes, 68% não foram recuperados e somente 6% tiveram recuperação total.

As três razões que mais propiciam a ocorrência de fraudes, segundo os executivos entrevistados, são:

1- A inexistência da cultura de controles nos gestores;

2- A falta de cobrança da diretoria por atitudes de controle dos gestores;

3- O pobre sistema gerencial de controle, uma auditoria interna burocrática e análise de risco sem resultados satisfatórios. 

Uma das formas de se “atacar” esse estado de “descontrole” interno é através de treinamentos para gestores com foco nos assuntos relacionados ao sistema gerencial de controle, ou seja, auditoria, controle interno, análise de processos, análise de risco, metodologia de medição de processos etc., criando nesses gestores a cultura de “responsabilidade por controle”, que por ser inexistente na maioria dos nossos gestores, é um dos principais facilitadores da ocorrência de desvios internos. 

Porém cabe a pergunta: Se os entrevistados são executivos dessas empresas, não seriam eles os responsáveis por ações administrativas e de controles para mitigar os três motivos apontados acima que facilitam a ocorrência de uma fraude? Porquê não o fazem? Certamente por falta de um preparo específico visando à implementação e manutenção de sistemas de controles.


* Gerardo Amaral atuou por 25 anos na IBM Brasil, tendo participado de vários programas de especialização em Centros de Treinamento de Executivos nos  Estados Unidos, México e Bélgica. Na IBM, exerceu o cargo de Gerente de Controles Internos e Gerente de Auditoria Interna País, na área de Auditoria e Controles por mais de 15 anos. Após, realizou trabalhos de consultoria na implementação de Sistema Gerencial de Controle (integração entre Auditoria, Controles e Processos), reengenharia de processos críticos e processos-chave, implementação de departamentos de Auditoria. Participou em Auditorias operacionais, e na elaboração de controles internos em clientes do porte da VALE / Lachmann - Agência de Navegação; Sinal Construtora; Escritório Barbosa, Mussnich e Aragão; Integral Agenciamento Marítimo; Cablelettra do Brasil; Prudential Seguros de Vida; Tribunal de Justiça do Mato Grosso.

Na área acadêmica, já conduziu mais de 200 treinamentos, palestras e conferências para mais de 4.000 participantes de empresas de grande porte e instituições públicas.

É professor e consultor do IDEMP – Instituto de Desenvolvimento Empresarial.

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